Durante um longo tempo estive procurando aquela que seria minha primeira tatuagem. Encontrei, enfim, no Pinterest. Amo gatos, então porque não tatuar um gato chorando? autêntico e dramático. Além disso, senti que a tatuagem praticamente me chamava, eu não tinha mais o que escolher.
Pesquisando no Google encontrei vários tatuadores dispostos a fazer a tatuagem. Fiz cerca de 8 orçamentos com tatuadores de todo lugar do Rio. Um deles propôs fazer por 600 reais. Não, não é possível isso tudo para uma tatuagem simples! Dispensei todos por causa do valor exacerbado.
Fiquei desmotivada, a necessidade daquela tatuagem falava alto, senti que algo faltava em mim. Comentei isso no trabalho, só pensava nisso. Eu sabia que faria, uma hora acontece. Mas algo inesperado surgiu: Durante a tarde, no intervalo do trabalho, comentava sobre o desejo de fazer aquela tatuagem com uma colega. Então, inesperadamente um homem calvo – com uma fisionomia um tanto quanto perturbada –, ouvia a conversa e decidiu participar.
Diz ele que conhece um tatuador excelente, um dos melhores que ele conhece, segundo ele, seria o único tatuador no mundo com quem ele tatuaria (ele não tinha nenhuma tatuagem e nem parecia conhecer sobre o assunto). Mas bem, ele tinha uma amizade com o tatuador. Penso que coisas assim acontecem: eu querendo muito fazer aquela tatuagem, uma pessoa aleatória me proporcionando isso, coisa de destino.
Voltei do intervalo com o contato do tatuador, entro no WhatsApp e mando uma mensagem para saber o orçamento. Deus queira que não seja tão caro. Ele não respondeu de imediato, no fim do meu expediente recebi sua mensagem. E surpreendente ele só cobra 120. Finalmente, este falou minha língua! Respondo na mesma hora.
Ele demonstrou ter uma agenda bem livre, tive sorte. Marcamos cedinho: 11h da manhã no complexo da maré. Bem, moro no Catete, então fiz uma breve viagem. Eu não consegui conter a emoção, a tatuagem tinha que ser minha, tem uma energia, nunca tive tanta certeza. Chegando lá me assustou a quantidade de pessoas de moto, tinha mais moto do que pedestres. Uns 5 minutos andando e cheguei no estúdio.
Aquele lugar não era muito o que eu esperava, havia tatuagem sinistras, como se ele tatuasse pessoas à beira da morte, pessoas que já tinham desistido da vida. Um cadáver; um caixão; uma caveira da morte; tudo assustador.
Mas fiz a tatuagem. Demorou 3 horas e enquanto isso entrou um homem com o rosto totalmente tatuado, ele parecia em desespero. O tatuador saiu para uma sala do lado da que estávamos e escutei a conversa de ambos: algo de errado estava acontecendo com as tatuagens do rosto dele. Não entendi exatamente o que era, mas fiquei alarmada. Logo eu descobri o que estava acontecendo com as tatuagens do rosto dele: experimentei do mesmo.
Chegando em casa, experimentei pela primeira vez um medo radical. Assustada, muito assustada. a tatuagem do gato chorando sorriu pra mim, sim, deu um sorrisão. Exatamente isso, ele sorriu. essa tatuagem no meu braço de alguma forma criou vida. Não consigo fugir, não dá pra arrancar meu braço fora. Mas é a única coisa que passa pela minha cabeça. Então começo a acender todas as luzes, como se fosse me ajudar; quando acendo uma, outra apaga em seguida
sem saber o que fazer coloco um pano no braço, prendo bem como se fosse possível prender uma tatuagem. Não é possível, isso não existe, essas coisas não acontecem. Uma tatuagem é incapaz de sorrir, uma tatuagem é uma coisa inanimada.Tiro o pano, é desnecessário ter medo, eu não sou maluca. Aquele homem que me indicou o tatuador, pensando bem, ele era um tanto quanto estranho, medonho. Quero arrancar meu braço. Vejo a janela, quero fugir de mim – me jogo da janela.